Crônica do Primeiro Dia da CE/IPB – São Luís em Abril
Por presbítero Luiz Augusto Gonzaga
Presidente da CNHP e enviado especial ao Maranhão
Nesta terça-feira, 8 de abril de 2025, após passar o dia anterior em viagem desde São Paulo, acordei com o som de palmeiras batendo leve contra o vento morno/quente da bela São Luís, capital do maravilhoso estado do Maranhão, o último do Nordeste, quando olhamos o mapa. Eu até tinha pressa, mas o céu não. E assim começou o primeiro dia da Reunião da Comissão Executiva do Supremo Concílio da IPB.
O relógio era impreciso, mas o compromisso era pontual: 165 presentes, vindos de 81 sínodos — pastores, presbíteros, gente de fé e de agenda apertada. Todos reunidos no Blue Tree Tower, no bairro do Calhau. Esse nome de hotel que parece meio tradução literal, meio promessa de sombra em solo quente.
Começou-se, como se começa, o que importa: com oração, Bíblia aberta e hinos que não desafinam nem na memória. O texto lido foi em Gálatas 6:14, como quem tira do bolso uma verdade antiga: “longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz...”. E ali, na voz traduzida (para a versão brasileira, não da Herbert Richers ou da AIC/SP) do pastor Jonghyuk Kim, da Igreja Presbiteriana Koreana, era clara e direta às mentes e corações ali presentes: a cruz falou alto e baixo ao mesmo tempo.
Depois disso, o trabalho. Muito papel, muita sigla, 261 documentos a passar pelos olhos atentos das 14 subcomissões — olhos que já viram de tudo e ainda assim buscam justiça, coerência, propósito. Há quem ache que comissão é coisa fria. Engano. Ali se decide, se mede, se corrige o curso do barco chamado igreja.
Mas houve também espaço para o que é quente, direto e necessário: pela manhã, reverendo Edson Fernandes tomou a palavra e não falou por falar. Secretário Nacional de Apoio Pastoral, trouxe em sua voz, o peso das preocupações que carregam os que cuidam de gente. A saúde dos pastores — física, emocional, espiritual — foi o centro. E foi como se alguém dissesse o óbvio que todos sabem, mas evitam: pastor também se cansa. Pastor também precisa de pastoreio.
Na Igreja Presbiteriana do Calhau, ali bem perto do hotel e com o sol forte de São Luís marcando presença pelo vitral, ministros do Maranhão ouviram, refletiram, e se permitiram ser desafiados. Reverendos Valdemar, Luís Augusto, Joel, Antônio Fontes, Darlan, e Leonel — cada um trouxe sua palavra, seu jeito de segurar o outro pelo ombro e dizer: “vamos juntos”.
Enquanto a tarde vai gastando sua luz e o sol começando a perder - um pouco - de sua força, as comissões, após uma fervorosa oração que clamou a Deus sabedoria e orientação do Espírito Santo para as discussões que seguiriam, se espalharam em salas com ar-condicionado cortando na alta, certamente para refrescar as mentes e corações daqueles que terão nos próximos três dias, importantes decisões a tomar. O que vi então foi uma espécie de "formigueiro organizado", onde cada um carregando, suas Bíblias, mão e; computadores, tablets ou simplesmente blocos de anotações à moda antiga em suas pastas, mochilas e valises 007. Tudo funcionando, mas não automático.
O que estou vendo, ao lado de nosso magnânimo comendador Paulo Roberto Daflon é a linda e maravilhosa engrenagem da IPB funcionando não como máquina, mas como corpo — falho, humano, mas acima de tudo crente, lubrificada pelo sopro do Espírito Santo de Deus.
São Luís assiste a tudo isso em silêncio. O vento segue, as palmeiras balançam, e a reunião continua. Amanhã tem mais.
"A cidade não me chega pelos olhos / mas pelos ouvidos, pela fala dos homens... / pelas vozes que vibram nas ruas que percorro." — Ferreira Gullar.